sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Abayomi - Vivência em Arteterapia




Encontro de 12.09.2015 Katia Silva e Robinson Oliveira

Abay – Encontro
Omi –  Precioso 

língua iorubá – um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental


Para a confecção da boneca Abayomi criamos um autêntico encontro precioso. Mergulhamos na sua origem e simbologia recebendo sua história de corpo e alma. Como define Fayga Ostrower, artista e pesquisadora do potencial criativo, o ato criador abrange a capacidade de compreender e por sua vez de se relacionar, ordenar, configurar, significar.

Traçamos um caminho iniciando pela experimentação sensorial, partindo do próprio corpo, suas formas e possibilidades nas propostas de Dança Integrativa.
Envolvemo-nos em grandes tecidos como peles coloridas e saias dançantes.Nos ritmos africanos criávamos movimentos e sintonias. Uma dança coletiva para saudar o berço da semente humana, nossa Mãe África e o próprio elemento terra que nos compõe.

Com o corpo e os sentimentos mais despertos, o lúdico foi se  encarregando  de trazer a criança interior. É ela que abre as portas do psíquico e imaginário, com seus olhos conseguimos nos desligar da forma e entrar num processo de entrega para o novo.

O professor, artista e guardião do conhecimento, Robinson de Oliveira nos guiou o aprendizado.  Há três anos ele encantou-se pelas Abayomis  e desde então dedica-se a  criá-las e vende-las junto as Festas da Cultura Popular Afro-brasileiras em São Paulo. A influência de suas origens moçambicana e senegalesa, revela-se na riqueza de  expressividade de suas bonecas. Sua didática é simples e sua intenção forte. A história lhe fascina, traz uma singular emoção para contá-la. O amor tece este vínculo especial , como  filhos e filhas renascendo uma cultura. 
Neste ambiente fomos desenvolvendo cada um a sua boneca, vivendo uma série de surpresas em sua simplicidade e originalidade. Encontros pessoais com memórias, sensações e muito carinho.










A delicadeza  na resistência.

Uma Abayomi é feita de nós. São eles que lhes dão forma, expressão, estrutura e resistência. Ela deve ser feita para durar, não se desmanchar por qualquer adversidade. 
As roupas trazem a cor, o gênero, a personalidade. 


Os rostos sem marcação de olhos ou boca nos abre um portal ao imaginário e num instante estabelece- se uma conversa entre criador e criatura.



A cor preta expressa sua inegável origem, mas também  faz a  ponte com o inconsciente. Seu rosto poderia revelar nossos segredos?... Quem sabe?


Entre a força e a delicadeza, nelas também amarramos aprendizado, conexão, inspiração, criatividade, feminilidade ... Na inspiração de sua origem, pensamos na humanidade e sua complexidade, na educação das  crianças e no poder das virtudes e intenções que movemos.
Assim, nesta  atividade tão simples junto a alta qualidade de um grupo disponível, conseguimos mover todos os elementos que dão sentido a prática da Arteterapia.

Segundo Jung, em ultima instância, toda criação do espírito humano tem suas raízes no inconsciente coletivo, com suas incontáveis estruturas psíquicas sem forma – os arquétipos - que se tornam visíveis com os meios apropriados. (Grinberg , 1997)
No mistério do ato criador, o artista mergulha até as funduras imensas do inconsciente, dando forma e traduzindo na linguagem própria de seu tempo as instituições primordiais em formas com qualidades artísticas e assim, tornando acessíveis a todos as fontes profundas da vida (..) O processo criador consiste numa ativação do arquétipo, em seu desenvolvimento e sua tomada de forma até a realização da obra perfeita . (Nise da Silveira, Jung, p.161-6)






Quando retomo aqui este processo, medito sobre esta rede de saberes que podemos acordar e o quanto de diferença eles podem fazer na relação comigo o outro e o mundo. Penso sobre o consumo, e sua interferência na essência do brincar, sobre a qualidade do tempo que dedicamos ao outro e quantas coisas podem ser destruídas pela absorção inconsciente de valores distorcidos fruto da manipulação de algum poder obscuro.

Nesta tarde de setembro,  nos mobilizamos física, motora, psíquica, criativa, social e espiritualmente apenas confeccionando bonecas e eu, ainda  sigo elaborando o significado da palavra resistência  e muitas outras cada vez que faço outra boneca.

Encontro precioso traz consciência, acalma, aproxima e enriquece nossa vida, que venham muitos!!! Estamos abertos para realizá-los em muitos outros lugares.

Salve todos os círculo e  movimentos de mulheres neste país, 
Salve os educadores, arte educadores que estão amarrando estes valores nas escolas,
Salve os institutos,ongs, associações e lares brasileiros. Estamos juntos!!!

Texto - Katia Silva – Psicóloga e Arteterapeuta

Fotos – Sattva Orasi
Bonecas  - Robinson de Oliveira Estevam


A história da origem das Abayomis
Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o transporte de escravos entre África e Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós. Essas bonecas eram feitas para que as crianças não chorassem, pois se isso acontecesse eram lançadas ao mar, algumas vezes com suas mães. Depois, já em terra, as bonecas acalentavam as crianças, evitando que chorassem e isso guiasse os capitães do mato até eles. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi, termo que significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim.
Sem costura alguma (apenas nós ou tranças), as bonecas não possuem demarcação de olho, nariz nem boca, isso para favorecer o reconhecimento das múltiplas etnias africanas.
As bonecas podem ser consideradas amuleto de proteção.

(Texto de Simone Frenkelis, participante da vivência, a partir de pesquisa no site www.afreaka.com.br  http://goo.gl/LsPWia. e narrativa de Robinson de Oliveira Estevam)


Dentre as muitas pesquisas que realizei quero destacar este video.  Para mim representa o maior sentido de multiplicar as Abayomis

https://www.youtube.com/watch?v=OMnvx8t-Q8k













quarta-feira, 2 de setembro de 2015

BONECAS ABAYOMI


Abayomi significa meu presente e  encontro precioso na língua iorubá.
Este foi o nome dado a estas bonecas recriadas pelas mães nos porões dos navios negreiros, onde tudo aparentemente estava perdido, e oferecidas as crianças para serem protegidas e acalmadas, 

Esta Mandala , também como encontro precioso quer reunir estas forças , africana, feminina e transformadora para ir além do aprendizado da confecção e através delas inspirar reverência a esta raiz negra, desfrutando de seu  poder e beleza. E inclusive estará aberta para os homens também.

Sua confecção em grupo de mulheres, com crianças na escola ou em tantos outros grupos, sempre será bem vinda. É um exercício completo, desde a destreza manual e riqueza de opções criativas de cores formas e tecidos, até o significado ancestral e emocional que ela traz. No âmbito histórico ela resgata nossas origens e traz uma bela iniciação aos estudos sobre a cultura africana e sua influência na cultura que desenvolvemos.
A força de vida desta nação gera música, dança e principalmente postura e valores diante da vida que a sociedade brasileira não pode nunca rejeitar.
Abayomi com a Mãe Africa e seus presentes.

Axé!


fotos de Sattva Orasi e bonecas de Robinson de Oliveira Estevam



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

HOMENS NA MANDALA DE MULHERES

Em 2013 o primeiro homem foi convidado para a Mandala de Mulheres, Daniel Moray nos trazendo com muita sensibilidade a vivência dos tambores. Até então a restrição era necessária pelos temas específicos que desenvolvíamos. Porém sempre soubemos e deixávamos claro que o feminino é atributo de ambos os sexos, cada qual com sua porção a cuidar e equilibrar.
Em 12 de setembro de 2015, no 8o ano da Mandala de Mulheres, quem trará o ensinamento  e a confecção das bonecas Abayomi será um homem, Robinson Oliveira, para abrir um novo ciclo, onde a celebração do feminino se universaliza.
Vamos trabalhar louvando a Mãe África, lembrando que o feminino precisa de cuidado e reverência em muitas dimensões.



CARTA A MÃE ÁFRICA

Nunca me esquecerei da visão,
do teu deserto vermelho encontrando o mar azul.
Eu te respeitava muito,
mas naquele instante te reconheci na pele da minha alma.
É Você que pinta nossas peles,
dá cor as nossas roupas
e ritmo aos nossos corações.
Sobre a tua batuta nosso sangue pulsa
e dos teus tambores vem a nossa fé.
Mãe Negra bendita,
rogo aos corações de teus filhos de perto e de longe,
o tardio reconhecimento
o perdão em forma de acolhimento
aos teus filhos de leite, tão sofridos.
Grata por ter esperado tanto!
Te amo muito

Katia Silva

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

WORKSHOP de DANÇA INTEGRATIVA

Neste mês de Março nossos encontros serão com a Dança que nos habita e reanima para a vida. Faremos um percurso por nossas memórias sensoriais trazendo de volta nossa natureza dançante e curadora.