Encontro de
12.09.2015 Katia Silva e Robinson Oliveira
Abay – Encontro
Omi – Precioso
língua iorubá – um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental
língua iorubá – um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental
Para a confecção da boneca Abayomi criamos um autêntico encontro precioso. Mergulhamos
na sua origem e simbologia recebendo sua história de corpo e alma. Como define Fayga Ostrower, artista e pesquisadora do potencial criativo, o ato criador
abrange a capacidade de compreender e por sua vez de se relacionar, ordenar,
configurar, significar.
Traçamos um
caminho iniciando pela experimentação sensorial, partindo do próprio corpo, suas
formas e possibilidades nas propostas
de Dança Integrativa.
Envolvemo-nos em grandes
tecidos como peles coloridas e saias dançantes.Nos ritmos africanos criávamos movimentos e sintonias. Uma dança coletiva para saudar o
berço da semente humana, nossa Mãe África e o próprio elemento terra que nos compõe.
Com o corpo e os sentimentos
mais despertos, o lúdico foi se encarregando de trazer a criança interior. É ela que abre as portas do
psíquico e imaginário, com seus olhos conseguimos nos desligar da forma e entrar num processo de entrega para o novo.
O professor, artista e guardião do conhecimento, Robinson de Oliveira nos guiou o aprendizado. Há três anos ele encantou-se pelas Abayomis e desde então dedica-se a criá-las e vende-las junto as Festas da Cultura Popular Afro-brasileiras em São Paulo. A influência de suas origens moçambicana e senegalesa, revela-se na riqueza de expressividade de suas bonecas. Sua didática é simples e sua intenção forte. A história lhe fascina, traz uma singular emoção para contá-la. O amor tece este vínculo especial , como filhos e filhas renascendo uma cultura.
Neste ambiente fomos desenvolvendo cada um a sua boneca, vivendo uma série de surpresas em sua simplicidade e originalidade. Encontros pessoais com memórias, sensações e muito carinho.
A delicadeza na resistência.
Uma Abayomi é feita de nós. São eles que
lhes dão forma, expressão, estrutura e resistência. Ela deve ser feita para durar, não se desmanchar por qualquer adversidade.
As roupas trazem a cor, o gênero, a personalidade.
Os rostos sem marcação
de olhos ou boca nos abre um portal ao imaginário e num instante estabelece- se
uma conversa entre criador e criatura.
A cor preta expressa sua inegável origem,
mas também faz a ponte com o inconsciente. Seu rosto poderia
revelar nossos segredos?... Quem sabe?
Entre a força e a delicadeza, nelas também
amarramos aprendizado, conexão, inspiração, criatividade, feminilidade ... Na
inspiração de sua origem, pensamos na humanidade e sua complexidade, na
educação das crianças e no poder das
virtudes e intenções que movemos.
Assim, nesta atividade tão simples junto a alta qualidade
de um grupo disponível, conseguimos mover todos os elementos que dão sentido a prática
da Arteterapia.
Segundo
Jung, em ultima instância, toda criação do espírito humano tem suas raízes no
inconsciente coletivo, com suas incontáveis estruturas psíquicas sem forma – os
arquétipos - que se tornam visíveis com os meios apropriados. (Grinberg , 1997)
No
mistério do ato criador, o artista mergulha até as funduras imensas do
inconsciente, dando forma e traduzindo na linguagem própria de seu tempo as
instituições primordiais em formas com qualidades artísticas e assim, tornando
acessíveis a todos as fontes profundas da vida (..) O processo criador consiste
numa ativação do arquétipo, em seu desenvolvimento e sua tomada de forma até a
realização da obra perfeita . (Nise da Silveira, Jung, p.161-6)
Quando retomo aqui este processo,
medito sobre esta rede de saberes que podemos acordar e o quanto de diferença
eles podem fazer na relação comigo o outro e o mundo. Penso sobre o consumo, e sua interferência na essência do brincar, sobre a qualidade do tempo que dedicamos ao outro e quantas coisas podem ser destruídas pela absorção inconsciente de valores distorcidos fruto da manipulação de algum poder obscuro.
Nesta tarde de setembro, nos mobilizamos física, motora, psíquica, criativa, social e espiritualmente apenas confeccionando bonecas e eu, ainda sigo elaborando o significado da palavra resistência e muitas outras cada vez que faço outra boneca.
Encontro precioso traz consciência,
acalma, aproxima e enriquece nossa vida, que venham muitos!!! Estamos abertos para realizá-los em muitos outros lugares.
Salve todos os círculo e movimentos de mulheres neste país,
Salve os educadores,
arte educadores que estão amarrando estes valores nas escolas,
Salve os institutos,ongs, associações e
lares brasileiros. Estamos juntos!!!
Texto - Katia Silva – Psicóloga e
Arteterapeuta
Fotos – Sattva Orasi
Bonecas
- Robinson de Oliveira Estevam
A história da origem das Abayomis
Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a
bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o transporte de
escravos entre África e Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas
saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós.
Essas bonecas eram feitas para que as crianças não chorassem, pois se isso acontecesse
eram lançadas ao mar, algumas vezes com suas mães. Depois, já em terra, as
bonecas acalentavam as crianças, evitando que chorassem e isso guiasse os
capitães do mato até eles. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram
conhecidas como Abayomi, termo que significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá,
uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da
Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim.
Sem costura alguma (apenas nós ou tranças), as bonecas não possuem demarcação de olho, nariz nem boca, isso para favorecer o reconhecimento das múltiplas etnias africanas.
Sem costura alguma (apenas nós ou tranças), as bonecas não possuem demarcação de olho, nariz nem boca, isso para favorecer o reconhecimento das múltiplas etnias africanas.
As bonecas podem ser consideradas amuleto de proteção.
(Texto de
Simone Frenkelis, participante da vivência, a partir de pesquisa no site
www.afreaka.com.br http://goo.gl/LsPWia. e narrativa de Robinson de
Oliveira Estevam)
Dentre as
muitas pesquisas que realizei quero destacar este video. Para mim
representa o maior sentido de multiplicar as Abayomis
https://www.youtube.com/watch?v=OMnvx8t-Q8k
A oficina para a confecção da boneca Abayomi nos remeteu a infância, relacionada ao contexto histórico em que ela surgiu.
ResponderExcluirGrata por compartilhar, um abraço
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