sexta-feira, 1 de março de 2013

MANDALA de MULHERES com RODA de TAMBORES




foto André Rosso


   A oportunidade de trazer uma vivência de Roda de Tambores para a Mandala de Mulheres é muito especial. 
   Os tambores são instrumentos que nos reconectam com o pulso da terra, despertam nossa alegria de viver, chamam nossa ancestralidade e nossa dança interior.
   Daniel Moray é um músico, compositor e educador dedicado a pesquisa de instrumentos de percussão de várias etnias.  A Roda que nos oferece propicia uma experiência de viajar nas diferentes qualidades de sons e ritmos até criarmos o nosso som coletivo. O som de chamado para nossas necessidades físicas, emocionais e espirituais, um som que oferecemos à Terra com amor e gratidão. Um som para tornar inesquecível nosso potencial criativo e curador.

  A partir da história de La Loba a Mulher Lobo, nossa intenção é acordar a luz feminina, a mulher selvagem que por vezes adormece em nós, mas que também nos leva a ela, La Loba, a que nos reconstrói e nos liberta com mais estrutura para a vida.


La Loba, a Mulher-Lobo 

( do livro de Clarissa Pínkola Estes, Mulheres que correm com os Lobos)

Existe uma velha que vive num lugar oculto de que todos sabem, mas que poucos já viram. Como nos contos de fadas da Europa oriental, ela parece esperar que cheguem até ali pessoas que se perderam, que estão vagueando ou à procura de algo.
Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda e invariavelmente gorda, e demonstra especialmente querer evitar a maioria das pessoas. Ela sabe crocitar e cacarejar, apresentando geralmente mais sons animais do que humanos.
Dizem que ela vive entre os declives de granito decomposto no território dos índios tarahumara. Dizem que está enterrada na periferia de Phoenix perto de um poço. Dizem que foi vista viajando para o sul, para o Monte Alban num carro incendiado com a janela traseira arrancada. Dizem que fica parada na estrada perto de El Paso, que pega carona aleatoriamente com caminhoneiros até Morelia, México, ou que foi vista indo para a feira acima de Oaxaca, com galhos de lenha de estranhos formatos nas costas. Ela é conhecida por muitos nomes: La Huesera, a Mulher dos Ossos; La Trapera, a Trapeira; e La Loba, a Mulher-lobo.
O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de se perder para o mundo. Sua caverna é cheia dos ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo. Dizem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montanhas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se cobrir de pêlos. La Loba canta um pouco mais, e uma proporção maior da criatura ganha vida. Seu rabo forma uma curva para cima, forte e desgrenhado.
La Loba canta mais, e a criatura-lobo começa a respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo — algo da alma.



Nenhum comentário:

Postar um comentário