quarta-feira, 8 de junho de 2011

INANNA

Abrimos nosso 5º ano de trabalho com o mito da Deusa Inanna, talvez o mais arcaico que se tenha registro sobre a iniciação feminina.
INANNA é a Rainha dos Céus que se dispõe a uma missão no mundo inferior e de lá retorna com outra visão voltando a fertilizar e iluminar seu reino com outra qualidade.
Neste encontro trabalhamos com a consciência de nossos recursos para esta inevitável descida, que representa nossa disponibilidade para a sabedoria feminina profunda. Usamos como recurso a sensibilização corporal com movimentos voltados a percepção do peso no contato com a terra e os pulsos que nos levam ao crescimento (céu). Contruimos uma mandala e a recortamos em 7 partes que compuseram uma criação com Terra (pó xadrez e cola) e outros elementos da natureza.


INANA 

“A história da Deusa que se despiu, em sete portais sucessivos, de tudo que ela havia realizado na vida, até estar nua, com nada restando a não ser sua vontade de renascer”. 

No mito, Inana que é a Deusa do Paraíso, radiante, alegre, cheia de vida, desce ao mundo inferior para visitar sua irmã gêmea, Ereshkigal, cujo nome significa “a senhora do grande espaço abaixo”, que acaba de perder o marido. 
Solicitando entrada no kur, o ‘mundo do não retorno’, o guardião pergunta pelo motivo e ela responde que vem por causa de sua irmã, Ereshkigal, que se contorcia em dores. Inana é obrigada a passar por sete portais, sendo-lhe exigido que a cada portal se desfizesse de uma de suas muitas insígnias (coroa, vestimenta, jóias) de modo que adentrou nua o grande salão real, dirigindo-se diretamente ao trono de sua irmã, com reverência. 
“Então Ereshkigal fitou Inana com os olhos da morte. Ela pronunciou contra ela a palavra da ira. Ela bradou contra ela o grito da culpa" e logo a matou, deixando-a pendurada num gancho até apodrecer. 

Ao desfazer-se de suas insígnias como Rainha do Céu, Inana vai de encontro aos seus aspectos mais escuros, mais reprimidos. Inana e Ereshkigal são aspectos polarizados de uma mesma totalidade: os aspectos claro e escuro da Grande Deusa. A lua cheia e a lua negra, acertadamente chamada de lua nova, porque é nas profundezas da não existência, do caos, das trevas, que a vida se renova, renasce. 
Ao ultrapassar o limiar do kur, o reino da morte sumeriano, passam a prevalecer as leis de Ereshkigal. Nada do que aprendemos na vida nos serve diante da morte, nada nos resta a não ser nos render, nos submeter. Este olhar da morte, impiedoso e frio, não é fácil de sustentar. 
O que traz Inana de volta é a intervenção de Enki, deus da sabedoria, da água e da criatividade. Tomando um pouco da sujeira que estava debaixo de suas unhas pintadas de vermelho, “uma coisinha insignificante e rejeitada, até mesmo invisível anteriormente, e que sobrara do processo criativo maior”, ele modela duas criaturas que são enviadas ao submundo com a água e o alimento da vida, para se juntarem ao lamento de Ereshkigal, que estava para parir. 
Aproximando-se da deusa e “ignorando os processos de distância e das leis do mundo superior”, estas criaturas instruídas pelo deus da sabedoria levam o aspecto escuro do feminino a tomar consciência da validade de sua experiência de dor. Ao honrarem o sofrimento e validarem essa experiência, possibilitam a transformação da destruição em generosidade.
Como recompensa, ela lhes oferece o rio em toda sua plenitude, os campos plenos de colheita. Mas eles querem apenas o corpo inerte de Inana, seu pedido é concedido e eles lhe restituem a vida. 
texto organizado por Aline Santos
 
Nossa Vivência consistiu em mover nosso corpo em direção a esta qualidade de trazer o ar e a sabedoria para a terra possibilitando a experiência de germinar e transformar espaços, crenças ou o que necessitasse de outro ar dentro de nós. Criamos expressões plásticas a partir destas sensações que puderam retratar nossa conexão com o potencial do mito.

A Essência de Gabriel que acompanhou este encontro foi FLOR SOFIA -60 e o seu mantra é "ação correta com amorosidade". Dentro do mito esta evocação toma uma dimensão bem ampla.
Segue minha reflexão : A ação correta é movida pela sabedoria que se dá num constante ciclo de aquisições, de desapegos, de grandes movimentos e também de períodos de latência. Somos frutos do céu e da terra, aquele que nos suspende e aquela que nos suga, aquele que nos faz voar e aquela que convida ao mergulho. Ambos inevitáveis, pai e mãe, inseparáveis.
A consciência do ciclo nos permite o exercício do desapego e da responsabilidade pelo aprofundamento nas oportunidades de vôo, pois se tudo passa, devemos nutrir aquilo que permanece mais tempo, a sabedoria, o centro.
Como mulheres, podemos realizar vôos de águia. Como ela podemos aprofundar nosso olhar lá do alto, ao mesmo tempo que enxergamos ao longe.
Mover todos estes valores psiquicamente é responsabilizar-se pela tarefa de nossa sábia alma que humildemente embarca num corpo para atuar e reviver todo processo de criação.  Porque até aquele que tudo sabe não está livre do ciclo, pois ele não se move para si, está entregue a um continuum que quanto mais se expande  se recria e assim, não pode parar nunca. Ele é o ciclo da vida.





Bibliografia
Caminho para a Iniciação Feminina - Sylvia B.Perera
O livro das Deusas - Grupo Rodas da Lua
A Prática da Arteterapia  vol.V - Patricia Pinna Bernardo






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